sábado, 22 de outubro de 2011

OPINIÃO DE ROBSON DIAS, (Bel. em Direito e cursando jornalismo)

Os absurdos da liberdade religiosa
A liberdade religiosa por proteção constitucional é inatacável. Homens e mulheres são livres para crer no que lhes convier. O estado brasileiro resguarda este dispositivo, exatamente por compreender que vivemos num país plural. Seria mesmo incompatível com a nossa história se estivéssemos divididos entre duas ou três religiões apenas.
Os primeiros padres jesuítas chegaram ao Brasil 49 anos após a sua descoberta. O objetivo destes padres era a conversão dos índios para o cristianismo. O monoteísmo, baseado na vida e ensinamentos deixados por Jesus Cristo, se difundiu pelo país e em poucos anos já era a religião mais praticada no território nacional. A religião cristã é subdividida em três vertentes principais: o catolicismo, a ortodoxia oriental e o protestantismo. Com o tempo e por ordem de acontecimentos geopolíticos, agregamos imigrantes que baseavam a fé em outras culturas. Tudo extremamente aceitável, afinal, vivemos num Brasil sem dono e sem imposição de credo.
Até mesmo ateus possuem espaços respeitados neste país. Mas até onde vai o bom senso sobre essa tal liberdade religiosa? Pastores e padres travam uma verdadeira guerra santa na busca de novos fiéis, uma continuidade do que foi o início do protestantismo no século XV, reagente das práticas e doutrinas estabelecidas pelo catolicismo ortodoxo romano. É natural encontrarmos em diferentes canais de televisão programas que tratam sobre o tema sem nenhum compromisso verdadeiramente religioso. Comumente, pastores evangélicos de igrejas de todos os tipos são assistidos por milhões de pessoas.
Eu mesmo assisti há pouco mais de uma semana um pastor que atendia por telefone uma mãe desesperada. A mulher dizia ter um filho de muito bom caráter, com formação superior e vida estabilizada. De acordo com a mãe, nos últimos meses o filho apresentava um comportamento distinto do normal. O rapaz estaria chegando à casa todos os dias tarde da noite, e ela também percebia que o filho não apresentava interesse nenhum por mulheres.
A mãe, que por telefone desabafava, realmente parecia muito inconformada com a situação. E para agravar, contou que já havia perdido outro filho num acidente de carro. Sinceramente, não esperava nenhum discurso diferente das bizarrices que acompanho nestes programas, mas nesta oportunidade, o pastor superou a minha expectativa.
O religioso disse a mãe em desespero que o filho estava possuído por uma legião malígna, e que certamente era a mesma legião que havia matado o outro filho no acidente automobilístico. Para complementar, o pastor ressaltou por diversas vezes que esta legião havia se apossado da vida do rapaz em função dele ter se afastado das vontades de Deus. Disse com todas as palavras, que certamente ele iria morrer em breve se não procurasse uma igreja evangélica para se libertar.
Como se não bastasse, no mesmo estúdio onde estava o pastor, o acompanhava uma mulher que também opinava sobre os casos que eram apresentados por telefone. A baixo do nome desta mulher, que era exposto na tela da televisão, o GC ( gerador de caracteres) exibia: “especialista em casos espirituais”. Especialista em quê? O título de especialista só se dá através de titulação acadêmica e pelos constantes erros de concordância verbal, plural e pelo volume de besteiras que esta mulher falou, duvido muito que esta tenha feito algum curso de pós graduação em ciências espirituais. Na verdade, acredito que este curso nem exista. Picaretagem pura. Indignado com tamanha ignorância, resolvi mudar de canal. Eis que me deparo com outro canal.
Nesta oportunidade, um programa da igreja católica, mais especificamente de um grupo de jovens carismáticos. Estes discursavam sobre o casamento e vida sexual. Abertamente, faziam campanha contra o uso de preservativo e métodos anticoncepcionais. Um absurdo! Todos promovendo um verdadeiro descaso com a saúde pública e controle de natalidade. Desliguei a tevê. Fui dormir. Mas me deitei na certeza de que já está na hora do Ministério Público começar a intervir nestes casos, ao contrário estaremos agendando um país perverso, com fanáticos religiosos extremistas e que colocam essa tal liberdade religiosa acima do bom senso, dos interesses coletivos e, principalmente acima, da lógica cristã

Fonte: Portal Menina

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