terça-feira, 26 de maio de 2015

SAÚDE MENTAL [De Rubem Alves]

 
Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maikóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que tenha a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa…
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idiotas de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. É claro que nenhuma mamãe consciente quererá que o seu filho seja como Van Gogh ou Maiakóvski. O desejável é que seja executivo de grande empresa, na pior das hipóteses funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser elefante ou tartaruga a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego. Mas nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão, com exceção do Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos, em passeatas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente coisa dura e a outra se denomina software, coisa mole. A hardware é constituída por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. A software é constituída por entidades espirituais – símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos, o cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo espirituais, sendo que o programa mais importante é linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
A beleza pode fazer mal à saúde mental. Sábias, portanto, são as empresas estatais, que têm retratos dos governadores e presidentes espalhados por todos os lados: eles estão lá para exorcizar a beleza e para produzir o suave estado de insensibilidade necessário ao bom trabalho.
Dadas essas reflexões científicas sobre a saúde mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá que ninguém será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei no início, evitando assim o triste fim que tiveram.
Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem contra indicações. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm sempre as mesmas ideias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental. E, aos domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já não mais saberá como eles eram.
(Provavelmente escrito em 1994).

segunda-feira, 18 de maio de 2015

NO DIA QUE ESSAS INFORMAÇÕES FOREM PÚBLICAS .... HAVERÁ SURPRÊSAS !!!


É importante convidar todos os colegas para participarem da Audiência Pública que acontecerá na Assembleia Legislativa amanhã, dia 19 de maio, pela manhã, no Plenarinho da Assembleia Legislativa que debaterá o Plano de Cargos e Salários e o Orçamento do Tribunal de Justiça.

         O orçamento do Tribunal de Justiça sempre foi algo difícil de discutir pois, além de enorme, como o publicado todos os anos, ele não permite saber claramente (a não ser para quem o controla) para onde está indo cada real. Procurem buscar quais os Projetos que andam pela ASPLAN - Assessoria de Planejamento, não estavam disponíveis na página do Tribunal de Justiça até a conclusão deste artigo, principalmente aqueles que se referem a Recursos Humanos.

          Importante também buscar informações no Portal da Transparência. Vários dados são desatualizados, mas o pior de tudo é que a forma como o TJ disponibiliza a informação não permite a comparação de dados. Hoje o programa de Folha de Pagamento é controlado por empresa terceirizada. Contudo, há profissionais qualificados e preparados para isto, ou seja, é um processo de terceirização ilegal, pois o TJ não pode terceirizar serviços-cargos que não estejam em processo de extinção ou extintos. E pelo que sei o cargo de Analista de Sistemas não está extinto (ainda).

          Seria bom que os colegas também observassem como o Tribunal de Justiça investe um considerável recurso em outras empresas terceirizadas. O Arquivo do Tribunal de Justiça foi um dos pontos mais escancarados deste processo. O Tribunal contratou empresa para fazer prestar um "serviço", no setor de arquivo, e para isto exigia um número mínimo de trabalhadores por turno (oito em cada turno), contudo também contratava trabalhadores (mão de obra e não serviço), para desempenharem lá suas atividades. Ou seja, dois serviços pagos com o mesmo objetivo, motivo que levou o Tribunal de Justiça a ser processado por se utilizar de mão-de-obra sem carteira assinada.

         Outro ponto importante e que o Tribunal de Justiça não abre mão, pois sabe que ali está o nó da questão é a explicitação de quanto o Tribunal gasta em cada "rubrica" de folha de pagamento. Ou seja, o Tribunal nunca mostra o quanto custa cada despesa de folha. Vamos dizer, quanto é gasto mensalmente com auxílio-alimentação? Quanto custa o adicional de representatividade de todos os Diretores do TJ, além de já receberem um DASU-10? Quantos recebem o adicional de 10% e quantos recebem o adicional de 20% de nível superior? Quanto foi pago por venda de licenças-prêmio não gozadas pelos magistrados? Tudo isto está pronto nos relatórios de folha de pagamento (relatório de apropriação contábil) que deveriam ser mensalmente publicados a fim de trazer realmente a transparência para o judiciário. Ali sim você sabe o quanto é gasto em cada rubrica.

          O Tribunal também gosta de esconder todas as gratificações pagas através do artigo 85 do Estatuto do Servidor. Principalmente as gratificações que são feitas como que para a nomeação de um cargo ou função. Por exemplo, nenhum TSI aparece no portal da transparência como ocupante de Função Gratificada, pois esta Função nunca foi legalizada e desta forma eles não aparecem nos percentuais totais de Funções, assim como os Distribuidores os Coordenadores de Central de Mandados, e tantas outras gratificações que o TJ cria a fim de se adaptar as determinações do CNJ.

         O orçamento do Tribunal de Justiça não é só uma caixa-preta, é um Queijo Suíço, cheio de buracos que você simplesmente não entende pois é para não entender mesmo. Não é falta de capacidade técnica, é simplesmente importante que o TJ não divulgue determinados dados. Seria perigoso para os administradores do TJ se a sociedade e os trabalhadores percebessem que o TJ não se preocupa em gastar dinheiro, ao contrário, o TJ não está nem aí para quanto custa uma gratificação, o que ele quer, na verdade, é implementar ao máximo (como vem fazendo) a política de desvalorização salarial e favorecimento da precarização do trabalho.

          Duvido que o Tribunal de Justiça venha para esta Audiência com todos os dados para mostrar aos Trabalhadores e para a Sociedade. Ao contrário, vai mais uma vez (como já fez antes) tentar ludibriar e não demonstrar o que busca esconder com grande afinco. Lembro uma vez que, quando solicitada a informação sobre quanto custava a PAE (Parcela Autônoma de Equivalência - o valor atrasado do auxílio-moradia dos magistrados), em processo administrativo,o Tribunal de Justiça não teve um pingo de dúvida em negar a informação e para tanto se usar da Lei de Segurança Nacional a fim de não apresentar os dados. Boa Audiência Pública.



Fonte: 
http://www.emjustica.blogspot.com.br/2015/05/terca-feira-e-dia-de-audiencia-publica.html

quarta-feira, 6 de maio de 2015

ISSO EU MEREÇO PUBLICAR [do meu facebook] a respeito do post sobre os 22 anos da Casa da Criança

  • Retijane Popelier Pois então Sonia Maria Braz de Souza. Tentamos honestamente dar dignidade àquelas crianças mantendo respeito por suas mães, em primeiro lugar, e por suas famílias, todas, invariavelmente, filhas de pobres. Mas daí batemos de frente com uma juíza de direito e alguns promotores de justiça que defendiam a doação dessas crianças para casais da classe média [influenciados por medíocres assistentes sociais e psicólogos forenses], somente porque assim todos teriam menos trabalho. O que menos importava [e importa] para eles era a criança. Todavia, nosso programa de abrigo se encerrou.
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    • Sonia Maria Braz de Souza Sim Reti, uma pessoa da minha família que é dentista e atendia as crianças, é grande defensora do trabalho que vocês prestavam, pois via de perto como funcionava a "Casa da Criança" e tem grande admiração por vocês!
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      Patricia Reinert Parabens os 5 anos que morei la aprendi muito foi os anos muitos felizes colhesi pessoas maravilhosas que me isinaram muito
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terça-feira, 5 de maio de 2015

ANIVERSÁRIO DA CASA DA CRIANÇA DO BRASIL

HOJE A CASA DA CRIANÇA DO BRASIL COMPLETA 22 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO e é de sua autoria grandes ENSINAMENTOS, entre os quais destaco: Olhamos com censura para a mãe pobre; não a ajudamos a cuidar de seus filhos; o poder judiciário e o ministério público [com raríssimas exceções] tira os filhos das mães pobres e os dá em adoção [ou doação] a casais da classe média, como demonstração sofisticada e cruel de discriminação e preconceito e, finalmente, que a pior coisa que se pode fazer a uma criança é dá-la em adoção.