terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"NÃO SOU CHARLIE: SOU HUMANO" - Em nome da civilização, representantes políticos de nossos elevados valores ocidentais promoveram golpes de Estado e guerras

POR JOSÉ ARBEX JR.

Quem são: Hamid Abdullaj Shehab, Najla Mahmoud Haj, Khalid Hamad, Ziad Abdul Rahman Abu Hinal-Ketab, Ezzat Duheir, Bahauddin Gharib, Ahed Zaqqout ........ Simone Camile e Abdullah Fadel Murtaja? O jornal do Brasil de Fato responde: eram jornalistas. Foram assassinados por Benjamin Netanyahu, durante o massacre de Gaza, entre junho e julho de 2014, junto com centenas de crianças, mulheres e cidadãos palestinos. Mas ninguém sabe nem ouviu falar. E por que alguém se importaria? Eram árabes. Trabalhavam para meios árabes [exceto Simone, fotógrafa da Associated Press] e cobriam o massacre do "lado errado" das barricadas. Finalmente, a maioria era também muçulmana. Lixo. Puro lixo.
Nenhum grande meio de comunicação no mundo dito "ocidental" acusou o primeiro-ministro israelense de ser um inimigo da liberdade de expressão. Apesar do fato amplamente conhecido de as emissoras de TV e rádio da Palestina ocupada serem, rotineiramente, alvos prioritários das incursões militares israelenses. Mas, ainda assim, Netanyahu  não mirou nos jornalistas árabes. Eles morreram por acidente, "efeito colateral". Não era intenção dos israelenses assassinarem jornalistas, crianças, mulheres e civis. Longe disso. Assim como nunca foi intenção de Barack Obama executar gente inocente, no Paquistão, Afeganistão  e Iêmen por meio dos drones. Tampouco a "nossa" PM mira a população indefesa, que vive nas favelas, morros e bairros da periferia. A morte de inocentes, nesses casos, é um resultado marginal da "guerra ao terror" [ou ao narcotráfico, ao banditismo, às gangues]. Porque, é claro, os nossos valores ocidentais são elevados. Elevadíssimos.
Em nome da civilização, os mais ínclitos representantes políticos de nossos elevados valores ocidentais lançaram as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945, matando dezenas de milhares de crianças, mulheres, idosos, gente que nada tinha que ver com as operações de guerra no Pacífico. Despejaram milhões de toneladas de explosivos, fósforo branco e Napalm sobre populações inteiras de camponeses no Laos, Vietnã e Camboja, nos anos 60 e 70. Promoveram golpes de Estado e instalaram ditaduras sangrentas em toda Ásia, Oriente Médio, África e América Latina, durante o período da Guerra Fria. A civilizada França fazia experimentos químicos com a população da Argélia, nos anos 50. Em pleno século 21, os Estados Unidos legalizaram a tortura, agora qualificada como "técnicas especiais de interrogatório" [em Israel, aliás, a prática da tortura é legal]. Tudo muito civilizado.
E aí, em 1974, veio a público o civilizadíssimo general William Westmoreland, comandante das tropas derrotadas dos EUA no Vietnã, para explicar aos produtores do documentário Corações e Mentes que a matança no sudeste asiático não era tão grave assim, porque "o oriental não atribui o mesmo valor à vida que o ocidental. Nós valorizamos a vida e a dignidade humana". Tudo certo. Netanyahu e Obama não são agentes da barbárie, de modo algum, mas os irmãos Kouachi, ah, estes sim merecem o nosso ódio. Feriram os "valores ocidentais" ao assassinarem a equipe do Charlie Hebdo, em 7 de janeiro. O que foi o pequeno, o insignificante massacre de Gaza comparado a isso?
A cobertura do atentado de Paris feita pelos mais importantes meios de comunicação apaga o contexto histórico, ideológico e cultural que criou os irmãos Kouachi. Tudo se passa como se num dia qualquer, tomados de ira sagrada, pegassem em armas para cometer um ato sem sentido. Ignora-se o pano de fundo, todo o jogo de relações geopolíticas, políticas, econômicas e financeiras que vincula, de modo inextrincável, os governos "ocidentais", as monarquias e ditaduras árabes aos grupos terroristas e fundamentalistas. Os EUA criaram a AL QAEDA, Israel criou o HAMAS e ambos concorreram para o surgimento do ISIS, entre outras coisas. Nada se diz, tampouco, sobre como o atentado foi suspeitosamente oportuno para o ridículo presidente francês François Hollande[subitamente guindado à condição de porta-voz dos direitos humanos]; para Obama [agora, com as mãos livres para rearticular iniciativas militares no Oriente Médio] e para Netanyahu [Gaza ficou longe, no passado].
Nada disso aparece no noticiário. As coisas são assim: os Kouachi cometeram atentado porque... ora, porque "eles" - os islâmicos - fazem coisas desse tipo. O tom de histeria anti-islâmica que marcou a cobertura revela a construção - ou melhor, a radicalização - de uma perigosa e inaceitável cisão artificial entre "nós" - herdeiros da cultura judaico-cristã ocidental - e "eles" - árabes, islâmicos, orientais, enfim, aquele bando de fanáticos obscuros que dão pouco valor à vida.
Assim como o 11 de setembro de 2001 abriu as comportas da "guerra ao terror" e permitiu a implantação de uma legislação de exceção nos EUA [o Decreto Patriótico], o novo atentado alimenta e amplia perspectivas reacionárias na Europa [a começar pelo impulso às correntes da extrema direita que propõem a expulsão dos imigrantes islâmicos, passando pela abolição do Tratado de Schengen, que, adotado pela União Europeia, em 1997, abriu as fronteiras para o trânsito entre os seus cidadãos, uma das poucas realizações progressistas da aliança]. É uma cisão que opera no mesmo registro da campanha racista produzida por Adolf, na Alemanha nazista. O resultado foi Auschwitz.
Nada de novo no front. Apenas ganha alento o estúpido "conceito" de "choque de civilizações", proposto pelo orientalista Bernard Lewis e vulgarizado pelo execrável Samuel Huntington. A reação racista ao atentado atualiza a rejeição ao Islã como o "outro" abominável da Europa - que o diga o papa Urbano II [1042-1099], inspirador da Primeira Cruzada. Nada poderia ser mais esclarecedor, a esse respeito, do que a recusa da Democracia Cristã, sob orientação do Vaticano, em admitir a Turquia, antiga sede do Império Otomano, no interior da UE. Para a Igreja Católica, "Europa" e "cristandade" são e devem ser sinônimos.
No atual contexto, a frase "sou Charlie" aprofunda a cisão. A ela deve se contrapor a rejeição a todo e qualquer terrorismo - incluindo, principalmente, o praticado pelos estados - em nome dos valores que integram a humanidade não dividida, em seu conjunto. Em síntese: sou humano [não por acaso, ponto de partida e de chegada de Karl Marx].

fonte: CAROS AMIGOS, nº 215/2015, pág. 9

domingo, 15 de fevereiro de 2015

"Caiado"

Ele (O Senador) aparece em uma foto na revista IstoÉ (2359 de 18.02.15). A entrevista está nas páginas vermelhas. A resposta a uma das perguntas está assim redigida: "O CLIMA POLÍTICO SE DETERIOROU A UMA PROPORÇÃO INIMAGINÁVEL. ACHO QUE DESSE PACOTE DE MALDADES QUE O GOVERNO QUER APROVAR, POUCA COISA VAI PASSAR PELO PARLAMENTO. NÓS DA OPOSIÇÃO VAMOS MOSTRAR QUE DILMA NÃO ESTÁ FAZENDO A LIÇÃO DE CASA E CORTANDO AS DESPESAS. AO MESMO TEMPO QUER PUNIR OS BRASILEIROS COM IMPOSTOS E DECISÕES QUE DIFICULTAM O ACESSO AOS BENEFÍCIOS TRABALHISTAS. ENTENDO QUE A RELAÇÃO DO CONGRESSO DEVE SER INTENSA. NÃO VEJO NEM A BASE ALIADA DISPOSTA A ESSE DESGASTE.
Essa é a função política: o choque de forças do que resulta o melhor para o interesse público, ou seja, o interesse do povo.  ATÉ aí tudo certo, mas eis que na resposta seguinte Caiado afirma que "DILMA (a Presidente) NÃO TEM MAIS A MAIORIA. PPRECISA FAZER UMA GRANDE NEGOCIATA PARA CONSEGUIR ALGO AQUI.  ..."
Negociata? Foi um ato falho ou reflexo da realidade? Para mim apenas confirma que o
palco político, aqui no Brasil, está resumido a isso: negociatas. Então, governar, aqui, só é possível "pagando o preço" ?!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SOBRE O QUE NÃO FALAM ....

Sidney Braga, GGN
1 - 27% do preço da gasolina é o Imposto ICMS, de responsabilidade do governador do seu Estado. Portanto cobre dele. Fonte:http://www.br.com.br/wps/wcm/connect/portal+de+conteudo/produtos/automotivos/gasolina/como+sao+formados+os+precos+da+gasolina
2 - 6% referem-se a Impostos Federais, tais como CIDE, PIS e COFINS. Aqui você pode e deve cobrar do Governo Federal.
3 - Ao contrário do que dizem por aí, a gasolina do Brasil está longe de estar entre as mais caras do mundo. Após os recentes reajustes, a gasolina brasileira ocupa a posição 73 neste ranking. Fonte:http://pt.globalpetrolprices.com/gasoline_prices/
4 - A gasolina brasileira já esteve entre as 20 mais caras do mundo em 2002. Fonte:http://www.nationmaster.com/country-info/stats/Energy/Gasoline-prices
5 - O custo da matéria prima (petróleo) no preço da gasolina não chega a 20% no Brasil. Além disso, boa parte da matéria prima é nacional, não dependendo do preço do barril no mercado internacional. É por isso que quando o preço do barril subiu, o preço da gasolina brasileira não subiu. Pelo mesmo motivo, quando o preço do barril despencou, o preço da gasolina não acompanhou a queda.
6 - De 95 a 2002, o preço da gasolina teve reajuste de 350% em 8 anos. Média de 44% ao ano. De 2003 a 2015, a gasolina foi reajustada em 45%, média de 3.75% ao ano. Ou seja, o reajuste nos últimos 12 anos foi equivalente a média de 1 ano do período anterior.
7 - Em 1994, era possível comprar 127 litros de gasolina com um salário mínimo. 8 anos depois, em 2002, o poder de compra da gasolina diminuiu e era possível comprar 97 litros do combustível com o salário mínimo. Atualmente, após os reajustes, é possível comprar 220 litros com o mesmo salário mínimo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Falsa onda moralizadora

Estamos vivendo uma febre [sinal de doença] que eu chamo de onda moralizadora.

Ao logo dos últimos 30 anos NUNCA tivemos TANTOS meios de comunicação [redes sociais, p.ex.]informando e reproduzindo informação, entre as quais, chama muito a atenção notícias sobre DESONESTIDADE, a tal ponto de "surpreender" os leitores [como se TODOS fossem honestos [!]] .

Essa onda moralizadora é perigosa, pois está baseada em um comportamento falso, irreal. As pessoas NÃO SÃO HONESTAS e aí, para alívio de dores morais, alguns são incriminados.

Começa então um MOVIMENTO [perigoso, volto a dizer], de criminalização de algumas pessoas, alguns partidos, algumas instituições. De repente esse movimento pode se transformar em uma força incontrolável. E aí será tarde.

Em meio a tudo isso devemos nos preocupar, ainda, com a utilização desse "movimento" por aqueles que têm interesses difusos, variados, de outros aspectos como o político, p. ex.

Enquanto a vida segue, insistimos em nos enganar POIS NÃO VER A PRÓPRIA CULPA É, TAMBÉM, UM ALÍVIO, e as doenças precisam de "alívio".