Lula foi o maior presidente do Brasil, principalmente porque foi o primeiro presidente pobre do Brasil. Ele colocou os pobres no centro, ou pelo menos os trouxe mais próximos do centro: na economia, na política, na comunicação.
A inflação baixa, o aumento consistente do salário mínimo e os programas de transferência de renda reduziram a desigualdade em seu governo. E a figura de Lula, sua trajetória, sua postura (retórica) anti-elites, serviram de símbolo da emergência dos descamisados, a tal "nova classe média", confiantes como nunca ao se verem não só melhor empregados, mas também fielmente representados no posto máximo da nação.
Mesmo assim, como mostra o Censo 2010, seus oito anos de governo, encerrados justamente em 2010, apesar da propaganda, foram ineficazes na redução efetiva da disparidade entre ricos e pobres, esse traço (de)formador do caráter brasileiro.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula | ||
Marisa Letícia faz a barba do ex-presidente Lula, que se antecipou aos efeitos da quimioterapia |
Os dados do Censo são brutais. Um em cada quatro brasileiros vivia em 2010 com uma renda mensal de até R$ 188, preço de um jantar a dois nos lotados restaurantes de São Paulo. Metade dos brasileiros recebia até R$ 375 por mês. Os homens recebiam em média 42% mais que as mulheres (R$ 1.395 contra R$ 984).
As disparidades entre brancos e os auto-declarados pretos e pardos seguem gritantes também, aponta o IBGE. Enquanto a taxa de analfabetismo de 15 anos para cima era de 5,9% entre os brancos em 2010, entre pretos e pardos ela era de 14,4% e 13,0%.
Já os rendimentos médios mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) eram quase o dobro dos pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735).
Salvador, capital negra do Brasil, justamente tem a maior desigualdade de renda entre pretos e brancos, com brancos ganhando 3,2 vezes mais do que pretos. Já entre brancos e pardos, a cidade de São Paulo lidera a lista, com 2,7.
São números tristes, vergonhas nacionais, herança maldita de séculos cuja resolução vai demorar muito mais do que o desejável.
Lula foi o fio condutor do capitalismo brasileiro. Convenceu de forma bem brasileira, sem nenhum rigor, as massas e a esquerda de que o caminho para a prosperidade nacional passa necessariamente pela economia de mercado. No seu governo, ricos e pobres enriqueceram juntos.
Mas o Censo no último ano de seu reinado deixa claro que sua obra não foi assim tão grande, muito menos definitiva.
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