sábado, 22 de outubro de 2011

O Valioso Tempo dos MadurosAutoria: Mário de Andrade(1893-1945)

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daquipara a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado doque futuro.Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltampoucas, rói o caroço.Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,cobiçando seus lugares, talentos e sorte.Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutirassuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Jánão tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar daidade cronológica, são imaturos.Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargode secretário-geral do coral. "As pessoas não debatem conteúdos,apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas nabacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rirde seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleitaantes da hora, não foge de sua mortalidade, caminhar perto de coisase pessoas de verdade, o essencial faz a vida valer a pena. E para mim,basta o essencial!

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