"Boa parte de minha carreira jornalistica foi e é desenvolvida em Brasília, onde tomei conhecimento da perversidade administrativa, movida a tráfico de influência, corrupção, descaso, incompetência, demagogia. Um ambiente moralmente devastado, mas orientado por um mínimo de polidez. Como filho de uma família de classe média, sempre com amigos de classe média, aprendi a pensar e viver como classe média. Minha vida universitária foi povoada com casos de tortura aos presos políticos. Deglutia cada um daqueles tenebrosos relatos com espanto e incredulidade. Independentemente de qualquer consideração sócio-econômica, me parecia intolerável que um governo que torturasse pudesse existir. Quando o regime militar se foi e os direitos individuais se firmaram, senti, como muitos sentiram, que, enfim, "tortura nunca mais".
ed. Brasiliense, 4ª ed., 1990, pág. 11
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