terça-feira, 24 de julho de 2012

Texto de um projeto que apresentei à PMBC em 2006

".... Observamos, no dia-a-dia, que tanto as crianças abrigadas quanto as crianças do bairro, que frequentam seus projetos, tem grande carência de aprendizado, muito embora devidamente matriculadas na rede de ensino, isto porque, não obstante o esforço da classe de Professores pela qual são servidas, o ensino é proporcionado para grandes grupos, prejudicando a qualidade. Assim, constatamos crianças na faixa etária de 10 anos que leem muito mal, escrevem muito mal e, por consequência, interpretam muito mal. Também percebemos que o poder público, de modo geral, atende em quantidade, deixando lacunas no que diz respeito a qualidade. Consequência disso constatamos no contato com os adultos que, no mais das vezes, tem baixíssimo nível de alto estima; tem dificuldade de visão mas sequer se importam com isso porque "quase não leem nada"; satisfazem-se com trabalhos que exigem a mínima qualificação (serviços gerais, pedreiros, serventes, motoristas, etc); não se importam em exercer direitos, consequentemente, deixam de sonhar com um futuro melhor, para sí próprios e para seus descendentes, como se a sina da pobreza, da desqualificação, do trabalho subalterno fosse uma herança que deve ser aceita, de geração em geração.
Esse quadro nos permitiu observar, ainda, que crianças desde tenra idade já tem em si essa marca: pedem convencidos de que não merecem o que querem, apenas o que lhes dão; subtraem brinquedos e outros objetos, como comportamento normal; não se importam em interpretar, em conhecer, em descobrir, limitam-se a copiar; tem como máximo de diversão a rua ou frequentar cultos religiosos - não por vocação ou sensibilidade - apenas para não desafiar o "diabo"; nada conhecem de arte, beleza, história ... ou seja, retrato eloquente e atual do Brasil que está sendo construído, cuja população de periferia, no futuro, como atualmente, limitar-se-á a condição de procriadores, consumidores e, com grande chance, marginal, sustentando viciosamente, de geração em geração, a grande indústria da pobreza, da miséria, da dependência, do vício e da marginalidade.    ..."

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